Glória, glória, glória!

Vínhamos, há alguns ensaios, nos debruçando sobre a cena em que as atrizes se preparam para interpretar a Dona Glória – consultando posts anteriores, vejo que começamos a trabalhá-la no último dia 15, embora neste período tenhamos tido feriados e não a tenhamos abordado em todos os encontros.

Em primeiro plano, Alê; ao fundo, Telma e Valéria - na cena da preparação para Dona Glória
Em primeiro plano, Alê; ao fundo, Telma e Valéria - na cena da preparação para Dona Glória

No post A denúncia (e mais um pouco de José Dias e Dona Glória), falo um pouco de nossos primeiros passos com ela. Lá, está dito que, ao executar a cena, partimos de premissas erradas, dramatizando algo que tinha cunho épico. E houve mais: as falas de cada uma das atrizes se entrecruzam, se cortam, mas cada uma deve funcionar como um discurso único. Quero dizer: Quando a Valéria, por exemplo, dá a sua próxima fala, esta deve ser continuidade da fala anterior, independente do que tenham dito, entre elas, as outras atrizes – ao contrário do que acontece no modelo dramático, em que o diálogo transforma os interlocutores, fazendo com que as falas funcionem como réplicas e tréplicas. Mas isso nem sempre é fácil de se conseguir na atuação. E, ainda: na tentativa de montar a cena, recursos estéticos iam sendo excessivamente elaborados, mas a ação básica – a preparação para a cena – ia se diluindo, se perdendo.

Propus, então, às atrizes, que voltássemos a desmembrar a cena. Que trouxessem roupas, acessórios, maquiagem, o que achassem necessário para a caracterização da personagem. E que executassem a cena sozinhas, cada uma a sua vez, unindo todas as suas falas num bloco único de texto. Cada uma delas, então, fez uma cena solitária de preparação para a personagem, deixando o foco não no texto, mas na ação, no preparar-se para entrar em cena. E aí, a coisa rolou.

Tudo bem, mais uma vez, descobrimos o óbvio – como no texto Protocolo do Dinho pro período de 16 a 20 de março. Mas vou repetir aqui o que está dito lá: “[…] talvez seja assim com todas as obviedades – elas ganham valor quando conseguimos nos deparar com elas de forma que não suspeitávamos; quando elas aparecem fora do lugar; quando nos mostram que óbvias não são elas, mas o olhar que sobre elas colocamos”. E, se você quer saber, é um enorme prazer quando isso acontece, quando redescobrimos no corpo essas coisas que já sabemos – e, claro, nos redescobrimos como atores. Afinal, de certa forma, é um pouco esse o nosso ofício.

Ao voltarmos à cena das quatro, vimos que achamos o que buscávamos. A cena ainda precisa ser ajustada no que diz respeito ao seu tempo – ela ainda está lenta; é preciso, agora, ajustar o tempo de cada atriz com suas falas trespassadas pelas falas das outras. Mas isso – perdoem a repetição que pode parecer trocadilho – é questão de tempo.

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