Telma nos trouxe um texto – isso já tem um tempinho – pra uma cena em que ela condensa algumas das brincadeiras de Bentinho e Capitu ainda meninos e em que ele conta a ela que a mãe o mandará ao seminário. E, por algum motivo – o envolvimento com outras cenas e outros trechos do romance, possivelmente -, ele ficou parado, meio esquecido. Mas eis que ressurgiu.
No último ensaio, fizemos o seguinte exercício: as duplas Eldon e Valéria, Telma e Vinícius, Boone e Alê montaram a cena – três propostas, portanto. E Lorena fez, todas as três vezes, outras personagens que passam pelas crianças: Dona Glória, uma vizinha e um vendedor de cocadas.
Curioso é que, quando resolvemos retomar o texto, Telma achou que talvez não valesse a pena, que fosse desnecessário. Mas eu tinha gostado dele, achei que renderia bem em cena. E estava certo, foi muito proveitoso.
Quanto à interpretação, os atores pesaram a mão na interpretação do menino Bentinho – na história de fazer a criança, escorregaram, em alguns momentos, no estereótipo. Já as atrizes não tiveram esse problema. Compreenderam que o texto e as ações davam conta de mostrar a infância. Por outro lado, quando Capitu externa sua ira em relação à ida de Bentinho para o seminário, chamando Dona Glória de “carola, beata, papa-missas”, ficaram adultas demais – interpretavam uma ira de mulher feita e traída, o que, pra ser franco, ainda não sei se me desagrada.
Seja como for, isso é ajustável e muito normal numa primeira passada. Bom mesmo e que merece consideração é como a cena foi concebida – particularmente na proposta de Eldon, Valéria e Lorena, em que um desses ursinhos de bebês, dos quais a gente puxa uma cordinha pra que eles toquem uma musiqueta insuportável, assume várias funções, além da forma de lidar com elementos de um possível cenário.
Com essa cena, decidimos que podemos tentar uma primeira costura de coisas que temos montado isoladamente. Experimentaremos, na semana que vem, um bloco: a cena feita a partir do capítulo III, “A denúncia”, em que José Dias sugere que Bentinho seja logo mandado ao seminário, revelando ao menino que ouve atrás da porta seus sentimentos por Capitu; o capítulo XII, “Na varanda”, em que Bentinho, atordoado pela denúncia, remói sua descoberta sozinho – e aqui inseriremos a cena dos brinquedos de criança, como memória do personagem; e os capítulos XIII, “Capitu”, primeira aparição dos olhos de ressaca, XIV, “A inscrição”, em que os nomes dos dois no muro, escritos pela menina, confirmam a denúncia do agregado, e XV, “Outra voz repentina”, em que o Pádua surpreende Bentinho e a filha no quintal e a possível dissimulação de Capitu manifesta-se.
E, no embalo, aproveitamos outro bloco: a preparação das atrizes para Dona Glória e a entrada da mesma na cena do retrato, que já levantamos há um bom tempo – falamos um pouco disso em Dona Glória e o desrespeito.
Acho que isso vai ser bom – tanto no sentido de ser prazeroso quanto no de nos dar um pouco a cara do que temos feito. Depois, volto pra contar.